Osvaldo Moles foi responsável pela campanha do “Candidato da Bola” para vice-governador em 1962
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Laudo Natel
Fonte: Reprodução |
“O NOME É LAUDO NATEL” essa era a frase que aparecia na televisão. Apenas “Laudo Natel” surgia em meio às notícias dos periódicos de 1962. Quem conhecia o então diretor do poderoso Bradesco e presidente do São Paulo Futebol Clube (SPFC) não entendia o porquê da divulgação do nome, quem não o conhecia estranhava mais ainda. Seria uma nova marca de sabonete? Ou o anúncio publicitário de outro produto qualquer? A resposta só apareceu dias depois, com a veiculação da segunda fase da campanha:
“PARA VICE-GOVERNADOR, O NOME É LAUDO NATEL”
Laudo Natel que nunca imaginou seguir carreira política recebeu inicialmente o convite para ser candidato a senador, o que de pronto recusou, não queria morar em Brasília. Um segundo convite foi feito para concorrer como governador, mas acontece que um banco tem clientes de diferentes correntes partidárias e entrar em uma disputa dessas, com certeza envolve, no mínimo, algumas indisposições ideológicas para não dizer inimigos declarados. A própria política do Bradesco não permitia que funcionários fossem candidatos. O convite para entrar para política vinha de dois republicanos, o torcedor do São Paulo e secretário geral do partido Eugênio Alexandre Barbour e do deputado Francisco Franco, o “Chiquinho”, presidente do partido Republicano (PR).
Na época, o voto para vice era desvinculado do voto para governador, e esta foi a peça do quebra cabeça que faltava para convencer Laudo a entrar de vez na disputa e Amador Aguiar, fundador e presidente do Bradesco, a patrocinar – através do banco – toda campanha. Os republicanos sabiam que lançar aquele rapaz de modos humildes e origem caipira daria reais chances de vitória e grande visibilidade ao PR.
Um avião para percorrer o interior do estado de São Paulo, dois ou três funcionários para trabalhar na campanha e ainda verba para impressos e outros gastos necessários. “O Bradesco foi o meu partido”, lembra Laudo Natel, que prestes a completar 92 anos ainda trabalha diariamente em um pequeno escritório no Centro de São Paulo.
“LAUDO NATEL, VICE-GOVERNADOR DE TODOS OS BRASILEIROS DE SÃO PAULO”
Com a divulgação desta frase, Osvaldo Moles - importante radialista, produtor, jornalista, cronista e publicitário, na época - terminava a fase de apresentação de Laudo Natel ao eleitorado, lembrava dos migrantes e consolidava a independência da candidatura que não estava ligada a nenhum outro candidato. Em 1962 Adhemar de Barros, Jânio Quadros, José Bonifácio e Remo Forli concorriam a vaga de governador.
Adhemar de Barros, proprietário da Lacta, adorava um palco. Veterano, iniciou sua trajetória política em 1935, quando foi eleito deputado estadual. Em 1938 assume a intervenção do Estado de São Paulo e em 1947 é eleito governador. Disputou a presidência da republica em 1955 e 1960, mas acabou em terceiro lugar nas duas eleições. Após a disputa de 1955 teve seu nome exposto junto a denuncias de corrupção. Declarado inocente no tribunal, disse que seria absolvido pelo povo, nas urnas. E foi mesmo! Em 1957 ganha as eleições municipais e fica na cadeira de prefeito de São Paulo até 1961. Com tanta experiência e uma base eleitoral sólida composta por “ademaristas”, agora em 1962 estava de novo na disputa do governo. Como candidato a vice, Adhemar apoiava o advogado e político Teotônio Monteiro de Barros.
Jânio Quadros já medira forças políticas com Adhemar em diversas outras eleições. O presidente que renunciou um ano antes (1961) a direção do país, queria provar que sua carreira política não estava morta. Sobre a renúncia de 1961, Laudo Natel declara que obteve do próprio Jânio a melhor explicação para o caso. “Dr. Jânio, até hoje eu não entendi sua renúncia!” ao que o ex-presidente respondeu “Nem eu meu caro. Nem eu!”. Para vice, Jânio apoiava o Brigadeiro Faria Lima.
José Bonifácio e Remo Forli eram candidatos de menor expressão para concorrer ao governo e não tinham lançado o apoio a nenhum candidato para vice.
O trabalho de Osvaldo Moles na campanha
Maria Zilda recebeu espantada a notícia, jamais pensou que o marido pudesse se envolver com a política, mas logo se acostumou com a ideia e apoiou a candidatura. Laudo Natel chamou o sobrinho, Laert Natel, para ajudar, mas os dois não tinham noção de como iniciar uma campanha como aquela. Então foram para um baile de debutante na cidade de Franca. Aquela festa foi o primeiro ato de campanha!
Osvaldo Moles admirava aquele poderoso homem, qual o poder nunca ‘subiu a cabeça’. Frente a diretoria de um dos maiores bancos privados do país, da presidência do time de futebol que carregava o nome do Estado mais rico do Brasil e da comissão pró Estádio - que tinha o desafio de construir um complexo esportivo com capacidade para mais de 50 mil torcedores – Laudo Natel continuava um homem simples. Mas começar uma campanha para vice-governador do Estado de São Paulo em um baile de debutantes... Era preciso profissionalizar a campanha.
A primeira ação de Osvaldo Moles foi realizar uma pesquisa com os torcedores do São Paulo para definir o nome de campanha do candidato, que poderia ser apenas “Laudo” ou só “Natel”. Então, em um domingo de jogo no estádio do Pacaembu ele perguntou para todos os torcedores que chegavam com uniforme do São Paulo “Qual é o nome do presidente do seu time?”. A resposta era sempre a mesma “Laudo Natel”. O nome composto foi aprovado, mesmo sendo incomum, era um nome pequeno, fácil de decorar e pelo menos os torcedores do São Paulo já conheciam. Faltava o restante do eleitorado.
Laudo Natel utilizou-se dos recursos fornecidos pelo Bradesco para visitar todo o território do Estado de São Paulo, a cada cidade que passava, conhecia o prefeito, visitava escolas e os jornais locais. Fugia de recepções formais. Almoços, jantares e festas não faziam parte do seu estilo, palanques então... Laudo Natel fala que realizou apenas um ou dois comícios. Quando fazia campanha nos bairros da cidade de São Paulo, por vezes, Moles o seguia para saber como estava se comportando durante a campanha. “Lembro uma vez que estava fazendo campanha e entrei em um barbeiro na Zona Leste para fazer a barba, de repente, vejo pelo espelho, Osvaldo Moles passando na rua. Ele me seguia para saber se eu estava me comportando”, lembra Laudo Natel.
Osvaldo Moles ainda ressaltou as qualidades de administrador e as campanhas beneficentes que Laudo Natel participou. Uma das frases de campanha foi “LAUDO NATEL tomou parte em 33 CAMPANHAS para amparar as CRIANCINHAS POBRES”, porém quando Laert Natel perguntou como Moles chegou nesse número, ele respondeu que se eram 33, ele não sabia, mas esse era um número mágico e por isso resolveu usá-lo. Parece que o número deu sorte.
Quanto mais se aproximava do dia da votação, mais força Laudo Natel conquistava. Foi então que aconteceu o primeiro e único ataque a sua campanha. Em cima do palanque Adhemar de Barros defende seu vice e deixa a entender Laudo Natel entendia era de futebol e não de política. “Para vice-governador temos o Teotônio, tem outro candidato aí que é o candidato da bola! Para vice-governador do Estado de São Paulo o meu voto vai para o Teotônio”, declarou Adhemar. Acontece que o ataque virou mote de campanha, Moles, sabendo da força que o futebol tinha sobre o eleitorado, gostou da ideia, criou um boton com uma bola de futebol escrito o nome Laudo Natel e distribuiu como peça de campanha.
Para finalizar a campanha, Moles distribuiu um cartãozinho no dia da eleição com os dizeres “As criancinhas de São Paulo estão rezando por você. Bom Dia Laudo Natel!”, em referencia a um cartão que o candidato tinha recebido durante a campanha, em visita a um orfanato na Vila Matilde.
Realizada as eleições em outubro de 1962, foram contabilizados 1 milhão e 200 mil votos para o candidato da bola. Laudo Natel assumiu o vice-governo do Estado de São Paulo com 36,3% dos votos válidos e Adhemar de Barros foi eleito governador com 37,8% dos votos.
Por: Bruno Micheletti - RA: 375846-0
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