terça-feira, 29 de maio de 2012

VII MIL MILHAS BRASILEIRAS 1966

A história de uma das mais fantásticas corridas do Autódromo de Interlagos


Voltemos no tempo, para 19 de agosto de 1966, o Autódromo de Interlagos ainda possuía seu traçado original de 7.960 metros e ainda não se chamava José Carlos Pace porque neste dia, há 46 anos, ele estava na pista, junto com outras lendas como Bird Clemente, Luiz Pereira Bueno, Wilson e Emerson Fittipaldi.

Os pilotos correram mais de 14 horas a bordo de carros como Malzoni DKW, Karmann-Guia com motores Porsche, carreteras com motor Corvette e Willys Alpine,em busca do monumental troféu de um metro e oitenta que trazia a inscrição “Glória Imortal aos Vencedores da Mil Milhas Brasileiras”.

A largada foi dada, com trinta minutos de atraso, às 22 horas e 30 minutos. Na época fizeram ao estilo “Le Mans” (a corrida mais clássica do automobilismo mundial que ocorre na França desde 1923), com os pilotos correndo dos boxes em direção aos carros estacionados na reta, ligando e saindo com pé embaixo.

Em 1966, as coisas eram bem peculiares, tanto que os Vemag tiveram problemas para ligar, pois utilizavam motor dois tempos (parecidos com os de mobilete ou cortadores de grama, que misturam o óleo junto com a gasolina) que, somado a um tipo de óleo, necessitava que os carros fossem literalmente “chacoalhados” para pegar, para desespero dos pilotos.

Nas primeiras voltas os carros mantinham um ritmo forte para uma corrida de longa duração, com os líderes fazendo voltas em de 3min54s, com média de velocidade em 122,46 km/h, lembrando, no traçado antigo, com mais subidas, descidas e muito menos segurança, dos carros e da pista.
Durante á noite, não se via mais nada a não ser os faróis dos carros e um problema começou a surgir. O asfalto, recém colocado, começou a se soltar e quebrar os para brisas dos carros.

Ao surgir do Sol, as condições do asfalto eram tão precárias que alguns carros já haviam parado por problemas mecânicos, principalmente de suspensão. Na liderança, o Karmann-Guia de José Carlos Pace e Antônio Porto Filho, perdia a quarta marcha e o Malzoni DKW de Emerson Fittipaldi e Jan Balder começava a tirar a diferença.
Após 12 horas de corrida, os pilotos enfrentavam o asfalto podre, todos os problemas mecânicos possíveis e ainda lutavam com o próprio cansaço. Mesmo assim a disputa pelas posições era intensa e a corrida seguia em alto nível.

O final da corrida foi espetacular. O DKW de Emerson seguia firme na frente com Jan Balder ao volante, mas a carreteira Chevrolet de Camilo Christófaro e Eduardo Celidônio se aproximava com ritmo forte. Foi dada sinalização para Balder aumentar o giro do motor nas trocas de marcha para “fugir” do carro guiado por Celidônio.

Há apenas quatro voltas do fim (14 horas depois da largada), o motor dois tempos do DKW perdeu um dos cilindros e começou a se arrastar na pista. A carreteira de Celidônio passou pelo carro moribundo, mas não se sabia quanto combustível ainda havia no tanque.

Torcedores nas arquibancadas, barrancos, boxes e onde mais fosse, até na beira da pista, vibravam, torciam e se emocionavam com a disputa, quando o DKW parou no boxe e, sem poder desligar o motor, o mecânico trocou as velas de ignição enquanto tomava choques, já que o carro não podia ser desligado. A corrida parecia perdida para Emerson e Balder.

Celidônio com a corrida “ganha”, vinha pela reta dos boxes quando viu seus mecânicos sinalizando: o combustível não daria para completar a prova.

Ele parou no boxe, fez o reabastecimento deu a partida e... nada, o carro não pegava enquanto o DKW guiado por Balder apontava na reta dos boxes à três voltas do final e mais uma vez com um cilindro faltando. Em uma segunda tentativa a carretera saiu dos boxes em segundo lugar.

Balder tirava o máximo que podia dos dois cilindros restantes, mas não foi o bastante, nas ultimas curvas Celidônio ultrapassou e recebeu a bandeirada depois de intensas 14 horas 30 minitos e 30 segundos. Balder arrastando o carro até a linha de chegada ainda foi ultrapassado por outro DKW pilotado por Marinho Camargo na última curva.

No pódio Emerson Fittipaldi, com apenas 19 anos, chorava, mas Celidônio dizia profeticamente: “Não chora, garoto. Vocês fizeram uma grande prova e você ainda vai vencer muitas corridas em sua vida”.

Resultado final:

1. Camillo Christófaro e Eduardo Celidônio, carretera Chevrolet-Corvette n° 18, 201 voltas em 14h30min30s;
2. Mário César de Camargo Filho e Eduardo Scuracchio, Malzoni DKW nº 10, 201 voltas;
3. Jan Balder e Emerson Fittipaldi, Malzoni DKW nº 7, 201 voltas;
4. Norman Casari e Carlos Erimá, Malzoni DKW n° 4, 200 voltas;
5. José Carlos Pace e Antônio Carlos Porto Filho, Karmann-Ghia-Porsche n° 2, 200 voltas;
6. Jaime Silva e José Fernando ‘Toco’ Martins, carretera Simca n°. 26, 195 voltas;
7. Luiz Pereira Bueno e Luiz Fernando Terra Smith, Alpine n° 47, 195 voltas;
8. Wilson Fittipaldi Jr e Ludovino Perez Jr., Karmann-Ghia-Porsche n° 77, 192 voltas.

Por: Ricardo Varolli - RA: A1636D-5
Grupo: "Autódromo de Interlagos"



"Não chora, garoto, vocês fizeram uma grande prova",
disse Cledonio a Emerson
Foto: Reprodução

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