A realidade vivida por mulheres que não saem da maternidade carregando seus bebês
A difícil tarefa de ser mãe de UTI Foto: Reprodução |
O sonho da maternidade acaba se transformando em pesadelo para muitas mulheres após o parto ou até antes dele. Uma pesquisa realizada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) mostra que, em 2010, dos 173.884 nascidos vivos no município de São Paulo cerca de 2.200 não completaram os 5 anos de idade. Dos casos de mortalidade, mais de 70% foram consequência de afecções no período perinatal, malformações congênitas, deformações e anomalias.
Os números mostram uma realidade nada fácil enfrentada por mulheres de todas as classes sociais, faixas etárias e níveis culturais. Após a descoberta da gravidez e todas as transformações físicas e emocionais que ela traz, deparam-se com doenças incuráveis, adversidades inesperadas e precisam se acostumar com a rotina de procedimentos médicos, intercorrências e a vida estressante de uma unidade de tratamento intensivo hospitalar. Nasce aí uma mãe de UTI.
Mães de UTI são seres praticamente “invisíveis” para os que não pertencem ao seu círculo de convívio. Abandonam suas vidas para se dedicarem aos cuidados do filho doente. Largam o trabalho, afastam-se de amigos e até da família e passam a viver dentro do hospital, acompanhando de perto cada progresso na difícil recuperação de seus bebês.
Este é o caso da dona de casa Michele Tibiriçá, 32 anos. Michele é mãe de dois filhos, Gabriel de 5 anos que nasceu perfeito e Bruno, de 1 ano e 8 meses que divide seu pouco tempo de vida entre a UTI pediátrica do Hospital São Camilo e o atendimento domiciliar 24 horas por dia, o Home Care.
No sexto mês de gestação, ao fazer exames de rotina, os médicos perceberam que o bebê de Michele tinha algum problema. “No início me disseram que meu filho não tinha o cerebelo e, por isso, não sobreviveria após o parto. O médico me sugeriu até para tirar a criança para não ter problemas depois. Foi de uma frieza absurda”, conta Michele.
Ela decidiu ter a criança e esperar o futuro que lhe estava reservado. Foi abandonada pela sua obstetra, que não quis assumir o risco da gravidez. Diante de mais um percalço, Michele continuou a luta para encontrar profissionais especializados que assumissem o risco de sua gravidez até o fim. Até que, em setembro de 2010, Bruno veio ao mundo de parto cesariana, no Hospital Santa Catarina, em São Paulo. Foi direto para a UTI neonatal, de onde só saiu aos 3 meses de vida. Ele nasceu com mielomeningocele, uma malformação congênita na coluna vertebral. Poucos dias após o nascimento passou por uma cirurgia para amenizar o problema. Durante este primeiro período de internação, Michele passou por vários outros problemas, como a depressão do marido, que por conta disso parou de trabalhar por um tempo e gerou uma grave crise financeira na família,a distância entre a casa e o hospital que tornava a rotina de visitas ainda mais cansativa, já que ela precisava se dividir entre os cuidados com os dois filhos.
Mesmo fora do hospital, os problemas continuam. Administrar uma rotina de cuidados diários com o filho especial, manter dentro de casa enfermeiras e profissionais variados todos os dias e noites, e além disso tudo encontrar tempo e disposição para cuidar do outro filho e das atividades domésticas não são tarefas fáceis. Mas Michele garante que não se arrepende de ter lutado pela gravidez e afirma que o amor de uma mãe supera qualquer desafio.
Por: Renata Bartel - RA: A28BGI-0
Grupo: "Mães de UTI"
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